(diálogo de uma "lelé da cuca" chamada Yara Cilyn, com um passarinho)

- O que você está fazendo aí, passarinho?
- Descansando, ora! eu ainda me canso quando vôo, sou pequeno, e ainda tem a sua bichinha branca que corre atrás de mim...
- Mas logo aí, na casinha das ferramentas do jardim e dos baldes de limpeza?
- E por que não? posso continuar aqui?
- Claro querido, e obrigada por deixar-me fazer o registro de sua pousada.
- Registro, o que é isto?
- É uma coisa que se faz de várias formas, no papel, com uma câmara, um gravador, um carimbo, uma impressora, qualquer coisa importante que deve permanecer intacto porque nunca pode ser perdido.
- Não entendi nada, só entendo dos cajus do seu quintal, das galhas do cajueiro, dos beirais do telhado,dos mamões, das pitangas, de sementes, do meu ninho, do meu cantar e do seu canto.
- Fique à vontade, viu?
- Tru tru, trim trim...vat, vat, vat...
- Inté, meu garoto de asas

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...e uma bela melodia para fazer o conjunto

ALEGORIA DAS AVES

Belchior/ Toquinho

Cantar não é cantar.
Cantar é fazer, refazer.
Deixa essa deixa no ar,
É possível apressar o amanhecer.

É coisa de passarinho
Que voa em céu tropical.
Cantar, pensar que é seu canto
Que traz o sol pro quintal.

Mas o galo que vence a cerca
Sabe que o sol se levanta,
Não pelo canto que canta
Como um clarim matinal.

É que ele briga com as trevas
E incendeia a aurora,
E rompe o hímen da noite
Com esporões de metal.