Verdades e veleidades VII****
O infortúnio de um sonhador
Não me ditem regras e normas que nunca seguirei. No caminho que sigo, não comporta o conforto das marcas de inutilidades que nunca usarei. Carrego apenas resquícios das vontades de mudança de antigos sonhadores. Poucos padecem da arte de morrer pela mudança do viver. No meu canto, não ouço as prepotências do tempo com sua egolatria de ser dono dos infortúnios atemporais. Nas pedras imutáveis das páginas amareladas, são guardadas nossas diferenças de conquista. Ele, o tempo, senhor absoluto das horas; eu, servo contestador do esmaecimento das nossas glórias e frustações... Minha luta vã!
E nessa luta inglória, com minha espada de rimas e poesias, ainda não me dei por vencido na arte de tentar escrever e cortar palavras! E abraçados a elas, lutando contra o tempo, tento dar continuidade a emanação do espírito que, de tanta inquietude, brota diariamente de um ser cada vez mais descrente nas atitudes humanas. Não sou voz sozinha nestas areias moduladas pelas artes dos nefelibatas. Sou fruto da emanação da consciência de que alguma coisa está errada... Do nada foi gerado a nudez anímica, e o nada nunca mais poderá estar acima do abstrato. Herdamos, assim, o direito de vivermos como ser (a)normal. Somos – no mínimo – formas mal formadas, moldando-se para as arestas da conscientização plena da existência de algo divino; não apenas o viver temporal de um hedonismo passageiro.
Nesse embate, vou seguindo formas de pensamento que me levem – mesmo abstrato –ao mundo da conscientização de bem viver os nossos sonhares, longe das formas inúteis do glamour que brota da seda, do aço, da prata... Da palavra inútil que apenas procria a aprendizagem da inutilidade como exemplo. Assim, busco formas de um mundo que ainda não foi moldado; mundo guardado nas fôrmas de verso dos primeiros poetas... Poesias que hoje brotam ao pé de uma árvore que chora a ausência da galhardia das suas folhas mortas; poesias que se revezam nas águas de um rio que chora a ausência de um céu nebuloso; palavras moldadas nas rochas que lamentam a ausência das amadas ausentes; poesias plantadas pelas mãos calejadas dos que cuidam da terra-mãe; terra desprezada no tempo pelos seus filhos anti-poetas...
E entre folhas mortas, à beira de um riacho que chora pelas últimas flores, fincarão o epitáfio de mais um poeta: “Aqui jaz a esperança de um sonhador!”