O Construtor e seus vãos

O construtor e seu vago interior

O construtor imita os seus vagões, ou os vagões imitam seu construtor? Impossível saber...

Mas o vazio que preenche os vagões é elusivo.

Tanto quanto o construtor.

O grande vazio, escuro, ocre, frígido, álgido que abarrota sua personalidade.

É vago.

Embora tenha sido construído por mil vagões, o construtor não chega a ser nenhum deles, nem sequer é parte de algum deles.

O Construtor é algo que agrade a todos.

Todos os vazios, os vãos e todos os incertos.

Quem o construtor é? o que é?

A Aberração do vazio é o meu Construtor.

Trancar os rebentos.

Agrilhoar os dormentes dentro de si.

Feito do nada, constituído do que existe entre o céu e a terra:

Um vão.

Quimérico construtor de espaços

Entretanto todo vagão, embora desocupado, deva ser feito com encargo de carregar.

Está condenado a levar...

A carga, o dia, o sol, o tempo.

Um vagão não deve estar vago.

O construtor não deve estar só.

Deve reconhecer no mundo a essência de sua permanência.

O Construtor gosta de desígnios

Porém desconhece seus objetivos.

Sua condenação, seu destino.

Sua missão.

O Construtor entende então o seu elo abstruso.

Jamais transportou alguém ou algo que tivesse consistência.

A realidade é que o construtor não se julga humano.

Por não conseguir obter tudo o que quer, o construtor diz não querer.

Ele não sabe se querer tais coisas é sua incumbência.

Então ele se cala.

Trabalha calado.

Cumpre o que lhe é devido.

A Vida designa as leis da sobrevivência e o Construtor as abraça.

Ele quer ser abraçado.

Essa expressão de afeto significa muito para ele.

Ele deseja abraços, um simples desejo.

Desejo a tudo que foi dito,

Contradiz.

Laís Santiago Andrade

Laís Andrade
Enviado por Laís Andrade em 02/02/2009
Código do texto: T1418715
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