Guardo-te

As batidas calam-me...
Sou o risco de um dito falho.
Ouvi, nas cicatrizes do tempo... O teu cansaço.
Nas lacunas que crias; nos becos que escorres... A estrela que te guia...
Não poder mergulhar no mar do esquecimento... Não debulhar as sementes do teu peito...
Ouvir a música... Dos quadros em movimento... Teu lamento...
Cruzar as mãos e não os braços... Cuidar do fogo que correm por tuas veias...
E ser o ar falho, se for o caso... Deixar que o teu coração seja o atalho.
No vento, da montanha gigantesca, deslizar o meu corpo... Ser o que é apenas vontade recortada... Voar, na revoada de sentidos... Mal respirar o que dizes...
Nas tuas saudades alheias, colher memória cuspida... Ser o instante calcário... Ser apenas... Orvalho.
Regar as palavras certas... Determinar o dito em Carraro... Ser carranca para os teus pesadelos... Dormir, depois do teu sono guardado...
Negar-te?... Impossível fato... Inevitavelmente, negar-te é impossibilidade...
Ergo-me às alturas que providencias... Sou apenas o anjo que te guarda...
Sou estrada... Não tenho caminho definido...
... Duas rodas, nesse longo asfalto...


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