Ouvi...

Nem explicar-te eu posso... As luas que rolam soltas, no cálice que bebo.
Ouvi, nas curvas do tempo... Cada sílaba... Cada entrave rarefeito...
Um dia, a luz invadiu-me... As voltas dadas em conchas... O circular firme das mãos em pleno voo...
Face adequada... Contorno perfeito... Para os saltos do peito abrigo...
Nem em todo universo flamejante, encontrarei outros olhos diamantes...
Corri tempos, em vidas passadas... Fui o vento; a tua brisa adorada.... Fui o encanto encontrado, no canto da boca...
Hoje, o mundo arrasta-se... Em rabiscos, encontro-te mais uma vez....
Hoje, uma frase agarrada... Um dizer falho... Em longos retoques, na tela dos sonhos.
Amar o infinito...
Não ter como desgrudar os mantos que cobrem o chão que piso...
Amar cada célula... Cada revoada de sentidos...
Ir aos céus... Firmamento concreto... Com ares de consignação... Deixar os pulmões...
Falhar o dito...
Encontrar em teu peito a coroa dos meus pensamentos...
Dormir em concha... Entre as flores do tempo...
Guardar-me... Não recolher sonhos, se não for construir castelos...
Aos ouvidos, a palavra que espero...
Deixar que sejas o moinho das vontades guardadas...
Hoje, o universo abriu-se...
Teu canto ecoa, em minhas entranhas... És dança...
Meu riso encontra, no tear da trama, o teu corpo em chamas...

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