Homem aos pedaços
Teus olhos são de ressaca, como Capitu, dissimulado e oblíquo
Teu humor, de Bentinho, sem dúvida, oscila, mas és cético como ele
Ciúme doentio como Paulo Honório tiveste. por tua amada, passado
Como Fabiano, caminhas, na procura por algo plausível apenas
De Fernando Seixas, tens o orgulho e a elegância
Dos personagens de Dalton Trevisan, o mistério e a vida mundana
Como Caeiro não queres explicações para a natureza: ela é e pronto
Como Ricardo Reis, sugeres-me o Carpe Diem, e eu vivo
De Álvaro de Campos tens a lógica eu recuo
Igual a Álvares de Azevedo sonhas com a mulher ideal, inalcansável
Como Augusto dos Anjos, nas tuas noites insones vem o morcego da consciência te alertar
E como João Cabral, buscas a forma perfeita e complexa em tua poesia
Como Leminski procuras o concreto no verso visual
Brincas, todo lúdico e pueril, como Quintana menino
Como Drummond, dizes... E agora?
O poeta se esconde, atrás dos óculos e do bigode
Fazes pilhérias com teus leitores, os tira
Surgindo outro, outra face
Decifra-me ou devoro-te... pareces dizer com teu olhar maroto
Criança, e cruel és!
Não me convidas a entrar na tua roda
Nem me permites que te chame de meu homem.