Homem aos pedaços

Teus olhos são de ressaca, como Capitu, dissimulado e oblíquo

Teu humor, de Bentinho, sem dúvida, oscila, mas és cético como ele

Ciúme doentio como Paulo Honório tiveste. por tua amada, passado

Como Fabiano, caminhas, na procura por algo plausível apenas

De Fernando Seixas, tens o orgulho e a elegância

Dos personagens de Dalton Trevisan, o mistério e a vida mundana

Como Caeiro não queres explicações para a natureza: ela é e pronto

Como Ricardo Reis, sugeres-me o Carpe Diem, e eu vivo

De Álvaro de Campos tens a lógica eu recuo

Igual a Álvares de Azevedo sonhas com a mulher ideal, inalcansável

Como Augusto dos Anjos, nas tuas noites insones vem o morcego da consciência te alertar

E como João Cabral, buscas a forma perfeita e complexa em tua poesia

Como Leminski procuras o concreto no verso visual

Brincas, todo lúdico e pueril, como Quintana menino

Como Drummond, dizes... E agora?

O poeta se esconde, atrás dos óculos e do bigode

Fazes pilhérias com teus leitores, os tira

Surgindo outro, outra face

Decifra-me ou devoro-te... pareces dizer com teu olhar maroto

Criança, e cruel és!

Não me convidas a entrar na tua roda

Nem me permites que te chame de meu homem.

Sônia Casalotti
Enviado por Sônia Casalotti em 24/01/2009
Reeditado em 14/04/2009
Código do texto: T1401327
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