Eram olhos capazes de dominar-me entre suspiros. Uma pele agridoce, suave e rústica, roçando em meu ser – Paradoxo do próprio querer.
Sua mão recai sobre meu rosto, como que implorando por recordar cada detalhe meu. Arredia permaneço. Quantas vezes não fora magoada por uma ilusão construir?
Resisto em baixar a guarda. Mas cercada por seus braços, minha tola boca delicia-se com a sua. Já não penso, sinto. E, por puro instinto, envolvo-me com o clima arrebatador desta paixão que incurável.
Nem lembro ao certo onde tudo começou, ou como fui perdendo a razão com o surgir da noite. Culpo quem pelo meu descuido? Seu perfume complementava o meu. Seus gestos guiaram-me até este momento. Enredados em melodia, em ritmo.
Aquela dança frenética, iluminada pelo luar pretensioso da madrugada, alimenta meu âmago encantado por seu jeito. Deveria eu levar-me pelo que meu lado mais emocional clama?
Num sobressalto, acordo. Estou presa na escuridão solitária de meu quarto. Ainda sem compreender o que acabara de passar-se, suada, exausta, recupero o centro. Mais uma noite insone, pensando no que devo fazer, no que os fatos realmente são, no que escolher:“Como se pode importar-se com alguém assim?” “Por que retornar ao ponto de onde principiei esta jornada? Nada concreto prova o que ele sente por mim. Então, por quê?”
Sento na cama, recheada de sonhos provavelmente inatingíveis. Coloco os fones de ouvido, e Norah Jones retrata o que vejo. Até o amanhecer fico desperta ao som de “Sleepless Nights”.