Sentimentos

Tenho cá dentro um sentimento.

Que dorme e mama nos seios da mulher amada. Que beija as lágrimas do prazer e que fala segredos à imagem refletida nos olhos dela.

Os sentimentos iludem as minhas mãos e as levam a correrem pelos seus cabelos e pelos desenhos dos seus lábios.

Meus sentimentos, cama de nossas alvoradas.

Você, que antes morava nos bueiros de minha rua, hoje assisti nas paredes deste lar.

Nossas sombras dançam no teto, com passos que exaltam o amor consumido cá embaixo, envolta aos cobertores colhedores do frescor dos nossos desejos.

Li suas vontades nas curvas do seu corpo e interpretei em poesias o que me foi revelado.

Confio a você os meus sonos, ninados pelo canto da sua voz e acolhido pelas fotos do seu rosto.

Chovem gotas de suores na cabeceira da cama. E elas presenciam um novo mundo nascido do ventre de Vênus, que traz aos meus braços um filho da luta. Luta para ter a inocência pregada pela filosofia infantil.

Aguardo-lhe sempre atrás da porta, para pegar o amor de surpresa e olhar em seu semblante a emoção de ver o seu espelho.

Tenho uma mulher cá dentro, que trata os ferimentos dos meus sentimentos, que saboreia as paixões e injeta alegria aos cantos solitários dos sentimentos.