O QUE NÃO SE PODE MUDAR
Como um cão que olha perdido sua vida abandonada, Uma amante de um amor dividido clama no vazio um alento. O cão não entende a solidão de ser, sem dono, um escravo, mas o amante compreende a dor de ver apenas suas lágrimas, de ser a metade que sofre e implora, a única parte que chora. O cão não morre pelo desejo, definha-se inofensivo e só, mas o amante grita e reage, parte descontrolado para o outro lado, fere-se unicamente, porque seu amor somente lhe vale. Mas o cão encontra num afago qualquer a semelhança de um amor duradouro, a liberdade nas mãos de um dono, um novo horizonte, mesmo que por apenas um dia. O amante perde-se no auto-consolo, na piedade escachada de um homem que não ri na vida, não vê a sua frente um novo dia. Porque o cão não pensa, age conforme a mundo lhe pede e seu coração lhe manda e seja como for, vive com o que lhe foi permitido viver. Mas esse amante, não ama, apenas adoece no alto do seu egoísmo e morre diante do espelho. Não pode mudar certas coisas, então que se aceite o que não se pode mudar.