Amar você
Amar você é como estar à beira do mar: um oceano imenso e inacessível, de existência inegável mas que não nos é dado fruir totalmente. Ficamos à margem, felizes com as maravilhosas ondas, mas o azul profundo que nos hipnotiza fica lá, impenetrável, à distância.
Amar você é como entrar numa igreja: sentimos na pele a atmosfera de paz e devoção, o perfume do incenso redentor, a magia da fé... mas algo nos escapa, algo sempre nos escapa nos desvãos dos vitrais. Existe algo maior, com o que a comunicação nos é negada desde sempre.
Amar você é como provar de uma droga hipnótica: uma substância que nos conduz ao delírio, que nos apazigua as aflições... mas depois, envolvidos e viciados, reacende-nos, dentro, todas as angústias da abstinência, e é exatamente nesse momento frágil que não temos mais acesso a ela.
Amar você é ter de se tornar mudo, cego e inocente para que a audição e o olfato se apurem, para elevar o tato à condição de sentido mais amplo e abrangente, e para compreender a cada segundo que a vida, quanto mais complexa se mostra, mais simples é necessário que se torne. Para que não percamos tempo em respostas que não existem a perguntas que não podem ser feitas.
Amar você é um aprendizado longo, denso, quase impossível.