Uma crônica... para eu lembrar de ti
“(...) marido e mulher até que a morte os separe!” (:) efeito devastador em mim. Como acontece em algumas situações que ignoramos (ou fingimos)- inercialmente- vivas imagens a conspirar em nosso coração, arruinando-nos. “Tudo não começou com um sim”, são palavras de Clarice Lispector em: “A hora da estrela”. Talvez essa autora conhecesse melhor o que ia à alma de sua nordestina do que eu a minha.
O desafio a que me proponho é o seguinte: “Ainda o amo?”. Mal creio na pergunta que me faço! “Você é uma tempestade na alma, Flor!”. A idéia de ainda amá-lo me atormenta. Ouço a música dentro da igreja. O casal encontra-se a minha frente. Por que não atenuo essa dor saindo porta a fora, dobrando na primeira esquina? Ao mesmo tempo, entre esses pensamentos também quero ver os olhos dele.
Às vezes, ele ficava a me olhar. Quando eu percebia o gesto, sorria. Em meu coração fundiam-se o maroto brilho dos olhos dele e o fogo dos meus pensamentos. E eu seguia às tontas nas carícias dele... Pareço conhecer os mínimos contornos desses lábios que sorriem agora- a outra! A pele grudada na minha após o amor- Era como se simbolicamente eu morresse todas às vezes nos braços de... Marcos Bráulio!
Já ouvi histórias de paixão que levam ao desespero. Lágrimas alheias a minha vontade brincando no canto dos olhos! Meu coração implora piedade! (-) Há uma felicidade entre eles, à minha frente, adversa do que me vem na alma. Não tenho poder de fugir desses olhos! Oh! Minha dor que não encontra amparo neles! E vive em mim uma imagem de um deus negro, nu, aos pés da banheira, refletida ao espelho, quente e perfumada, brincando de amor nos meus olhos.
Em noites de mistérios, a cabeça no peito de Marcos a ouvir versos. A voz ardente cortando matas bravias dentro de meu ser. Numa carícia de amoroso olhar. Apenas num sussurro, entre beijos dos lábios dele- “És a única, minha Flor!”- Já ouvi dele entre notas de poesia lidas: “Esquece!” Ah! Negro amado! “Mas lembro...”. Recordas-te?
Ui! Que medo de começar a enlouquecer! O desespero me faz conversar com um alguém que não me vê. Sou invisível na multidão de pessoas que assistem ao casamento desse homem. (Quase apagada entre o morro e não morro agora.). Muitas flores- tais crianças- festejando ao longo do percurso da igreja. “Não é nada disso”, repito em hipérboles aos meus olhos. Segredo uma lágrima em meus dedos. Uma gota de lembranças, que me atravessam a alma. Viajando por meu corpo entre rajadas de perguntas. Onde te perdi? Em algum verso com tua amada? Quando o verso foi e veio falando de amor? Talvez nalgum sábado assim...
Todas essas lembranças pertencem a um mundo que devo ocultar agora. Mas nesse mundo há coisas que só eu e Marcos pudemos sentir (-) como uma velha imagem de labaredas em si amar! E observo meu coração em tumulto, em noites ou tardes secretas, o meu corpo junto ao dele, uma voz (um sonho hoje?)- Eu te adoro, Nega!
Mas vai morrer essa dor, sei. Há um tempo em que tudo passa... Tudo passa (...). Aves brincam em flores multicores, que exalam sexo, e nas tardes de sábado abrem-se pétala a pétala. E conservo a flor (Roubaste-me?) para que sempre eu me lembre de ti!