Alguém
Acontecia que por trás da imponência, da resistência, da força, da sensação de segurança e poder que transpassava a todos ao seu redor, se encontrava um ser frágil e indeciso. Não sabia na verdade quem era. Não vivia o que aparentava. Não recebia em troca o que ofertava. De ninguém. Questionava-se diariamente sobre sua importância que era tão ressaltada quando precisava. Mas que nunca era reconhecida quando merecia realmente. Sofria dos piores males do amor. Amava, mas tinha medo de reconhecer. Tinha medo de mais um caso de amor não correspondido. Tinha medo do mundo.
Conversava, tristemente, com a Lua nas noites em que ela aparecia para abrilhantar o vazio amigo que cobria o gramado além da janela do quarto. E a Lua, a única que realmente sabia das coisas que se passavam e do que realmente se passava nos seus pensamentos, respondia sincera, a todos as dúvidas e questionamentos, sem se cansar. Até que vinha o Sol cobrir o dia de calor e luz e fazia com o que o pobre ser confusamente imponente duvidasse do ser mais uma vez. E mais outra. E ainda outra.
Não fazia mais diferença. Só importava a companhia que tanto sonhava e que nunca teria em troca. A recompensa de todos os seus atos. Nunca esperara, conscientemente a recompensa, mas seu travesseiro guardava os sonhos privilegiados de paz e felicidade da alma. Era aquele o único momento em que tinha certeza que era imponente e forte diante de todos os seus medos.
E conforme sua segurança crescia, dando a sensação de prazer cada vez mais forte que os sonhos costumam trazer, o despertador insistia em tocar, mostrando que a realidade não acabara, e que nunca acabaria. A última alternativa era transformá-la em sonho na noite seguinte.