As palavras me visitavam, continuamente. Às vezes eram convidadas, já tarde da noite. Às vezes vinham de sopetão, sem aviso.
Caminhando no parque, ficava pensativa, e elas acudiam, várias e simultâneas. Quando me aquietava para a escrita, elas me pregavam peças, e se escondiam. Fugiam, muitas vezes, por dias e dias.
Eu me desesperava, e as chamava. Lia Drummond e Neruda. Gritava por elas. Ia fazer outra coisa, cuidar da vida. Aí elas vinham, sorrateiras, chamando no meu ouvido.
Obediente, me punha a falar com elas, um assunto que ninguém entendia. Só eu.
Um dia, no burburinho da vida doída, briguei com elas. Dei um basta. Fechei os livros de poesia. Guardei todos bem longe de minhas vistas.
Fui à academia fazer musculação, arrumei um namorado, fui dançar. Até que um dia, cantei. E as canções foram chegando ao meu ouvido, e eu tive que ouvi-las de minha boca, bem alto.
Foi bonito. Agradei-me e senti um prazer diferente. Íntimo, pessoal e delicado. Daquela noite em diante, não fugi mais da poesia.