LAMENTO

Ó amada...Ó amada!

Dize-me! Porque partiste dos meus olhos?

Porque deste-me a escuridão, se o amor é luz?

Não posso mais abraçar o teu corpo doce, como a saudade me abraça.

Sinto no coração o fel da angustia, da dor instalada no meu peito.

Dize-me, dize-me! O que posso construir com esse silencio, com esse vazio?

Para que me servem essas lagrimas, esse grito que não tem eco,

Esse céu que nos foi ofertado com essas estrelas que só sabiam aumentar o brilho do teu olhar quando eles eram dirigidos a mim.

Dize-me! Essa partida tem que ter um som, uma forma, um não sei o que.

Ela não pode ser tão abstrata assim.

É necessário que se tenha um apoio, uma vasilha, um pote, para que eu possa,

Depositar toda essa angustia, todo esse meu sofrer.

Já houve outras partidas, mas tu deixaste o horizonte como referencia,

E agora? Onde está esse marco, que estrela devo seguir para me guiar?

Ó amada...Ó amada!

Se tua presença sempre foi meu porto seguro, porque me deixaste em águas bravias?

Até o vento que insuflava meu barco acovardou-se,

Nuvens que me banhava a tarde, pegaram carona na brisa,

O solo que me mantinha firme e que abrigava a relva, as flores que te ofertava,

Esta árido, seco, com um pó tão fino que não guarda lembrança dos teus passos.

Não posso minha amada, não posso abraçar ou aceitar a tua partida, não dessa maneira.

Se nosso amor sempre foi tão concreto, tudo agora escorre por entre meus dedos.

A melodia que ouço é orquestra formada pela dor, solidão, abandono e tristeza.

Que modelo de historia de amor deixaremos para o futuro?

Se era doce afagar teus cabelos, hoje só me resta as ramas dessa arvore nas mãos.

De você; só me restou saudade,

De mim; só existe o nada.

Não tenho forças para me levantar, para ir em frente, e eu preciso.

O sol está se pondo e agora vem outro tormento, a lua.

Essa mesma lua que nos banhava de companheirismo, cumplicidade,

Hoje ela clareia um ser alquebrado, dolorido.

Sabe minha amada; meu amor é tão grande que não gostarias que me visse assim.

Ele não representa nada do que fomos. É apenas fruto dessa partida,

Não foi essa semente que juntos plantamos um dia,

Não são esses os nossos sonhos que construímos,

Não são essas as palavras que sussurrávamos,

Não é esse brilho de olhar que tanto cultivávamos.

Ó amada...Ó amada!

Fostes sem uma palavra, sem um aceno, sem nada de herança na partida.

Acabou...Eu sinto isso. Sou o retrato desse abstrato concreto.

Sou eu. Estou assim, mas não sou assim.

Senão você não teria um dia se apaixonado por mim.

Tenho que me procurar, me achar e me encontrar.

Adeus minha amada...Adeus!

Di Camargo, 25/11/2008

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 25/11/2008
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