Lembranças de uma época...

Lembro-me de onde sinto saudades, da vivacidade que a natureza expunha, para que houvesse um sentido melhor no ser em questão: o homem. Lembro-me de acordar com o cantar dos pássaros, que pela cumeeira das casas estavam a voar, e olhar o sol sobre os morros que estava a me iluminar; dos banhos de açude que me alegravam e frutas a me alimentar.

Lembro-me de correr por entre arvores e arbustos; perante o cheiro das flores, que a mãe natureza nos proporcionava de forma tão natural; de saborear o doce que as frutas dispunham ao nosso favor, fazendo com que nossa vida, não fosse mais tão amarga; de me deitar em meio à relva e entre o pacífico silêncio poder descansar; de sentir o cheiro da terra ressecada, ou mesmo molhada para me revigorar.

A época em que as folhas secas das árvores, farfalhavam em seus galhos, desprendendo-se, caiam ao chão e formavam um vasto tapete de sombras ressecadas, que não mais nos protegia do reflexo, nem da quentura solar; da época em que cada fruta em seu tempo, se exibia exuberante, para assim ser cultivada, enfeitando e tornando fartas, as mesas de quem delas sabiam cuidar.

Dos rasos e fundos, estreitos e largos riachos, que o homem usava para se refrescar, devido ao grande mormaço que a terra fazia esquentar. Sem esquecer as caronas que se pegava com o vento em muitas corridas que pelos pastos este dava.

A melodia que os pássaros gorjeavam, era para mim motivo de alegria demasiada, pois apesar das ameaças que nossa mãe natureza sofria, podia-se notar a alegria, com que estes encantavam com seu canto, fazendo enternecer a mais grotesca pessoa que por ali passava.

Dos pequenos vilarejos em que os moradores felizes plantavam o alimento do dia seguinte; e as mulheres, por sua vez, varriam seus terreiros com vassouras de capim; crianças que corriam e brincavam junto a cachorros, galinhas e cabritos; como era animador, a relação animal racional misturando-se à irracional; as roupas que embranqueciam as frentes das casas; são lembranças que jamais se encardirão, pois antes eram tão bem lavadas nos ribeiros correntes, que por entre o mato passavam.

Passávamos sempre a cumprimentar, um pequeno menino, que corria pra nos olhar e mesmo com as mãos perfeitas, não sabia acenar, mas como a insistência o cansaço venceu, em um dia qualquer, a dar tchau o menino aprendeu. Daí então, se acostumou a correr, quando ouvia a zoada do carro, saia para nos ver; e à longa distância este menino acenava e quando cumprimentávamos o menino se alegrava.

Das nuvens de poeira que vinham nos abraçar, e até das poças de lama, que nos esperavam pra nos sujar, quando assim faziam nosso carro atolar. Sem esquecer a usina, que devido ao seu mau cheiro, nos fazia as narinas tampar, e ainda as palhas da cana queimada, que em nossos olhos insistiam em entrar.

Oh! Como eu me lembro, e como lamento, de toda essa riqueza não poder mais desfrutar. Das sementes que plantamos, não vermos seus frutos dar.

(Dedicada a todos, que à sua maneira, contribuíram para o crescimento do engenho Estivas)

Sillino Vitalle
Enviado por Sillino Vitalle em 22/11/2008
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