Hoje a noite não tem luar...
Sem seu amor, o que será de mim? Saio na noite e uma luz me engana.
Sigo, na escuridão e vejo. Uma porta, apenas. E um aviso diz:
_ Entre sem bater.
Obedeço. Dentro, risadas, mas minha vontade é de chorar. Tilintar de cristais, não bebo. Fumaça, e eu não fumo. Perfumes, música. Alguém vem e me acolhe. Me tira pra dançar.
Eu danço, no ritmo alucinado de quem quer se esquecer de algo que podia ter sido lindo, mas foi abortado. Tão antes do tempo! Abortos ferem úteros, podem torná-los não férteis, irremediavelmente, para sempre. Então danço, mais uma música, por favor!
As lembranças e os rodopios vão nublando minha visão e eu fico zonza. Paro e o vejo vir para mim.
_ Venha, querido, me conta de você.
E de você aceito o vinho e o cigarro que nunca provei.
O sonho toma conta de mim. Volto pelo mesmo caminho, e fico lúcida. Hoje a noite não tem luar e eu estou sem ele.