Vai ver
Vai ver, não era pra ser, de tanto que estava estagnado, curtido, castrado, sem movimento ou poesia. Vai ver o tempo havia passado enquanto eu nem percebia. E esse tempo em que sonhei acordado, nada me trouxe além de presságios, encontros imaginários, dos quais só guardo a lembrança de miragens que ninguém viu nem viveu. Miragens e nada mais...
Vai ver, não era pra ser. Vai ver eu cultuei o invisível, o inexistente, mas previsível: o próprio infinito amor. E vida afora, vida adentro, ergui altares, inventei virtudes, emoldurei a perfeição em todas as atitudes, pintei os retratos que nada amarelava, os anos passavam enquanto eu ficava. Vai ver, era eu quem sonhava enquanto os motivos aconteciam e eu apenas me desculpava.
Vai ver, nunca houve nada. De absoluto, só o que vejo agora. Um amor no luto do clamor de cada hora em que implorava a presença de quem pouco veio. Convivência renegada por uma paixão mal curada, sobrevivendo como devaneio. As lentes que agora uso, permitiram-me outra nova visão, sem miopias, astigmatismos ou ilusão. Vai ver, o que vi foi mesmo o fim, sem a verdade do sim, imerso num mesmo não.