Desejo
Me dói na alma conhecer uma palavra, saber o seu significado e não usá-la por não dominá-la completamente.
Cada vez que escrevo é como se eu explodisse. Não que as palavras em mim sejam muitas. Ao contrário. Elas me faltam. Sou uma caixa de pensamentos e sentimentos efervescentes e infinitos sobre a vida, o amor e as pessoas. Há muito para falar, mas as palavras me faltam. Quando não consigo mais suportar, me conformo com as que agarro no desespero. (Palavras não se deixam pegar facilmente. São escorregadias. Escapam por entre os dedos.) Às vezes, roubo-as dos outros. Mas tudo o que consigo é sempre muito pouco para o que há aqui dentro.
Por isso quero comer todas elas. Uma por vez. Apreciá-las, degustá-las, triturá-las, esmiuçá-las. Sílaba por sílaba. Letra por letra. Quero saber cada traço delas molhado pela minha saliva, tocando o céu da minha boca. Engoli-las agonizantes e senti-las vivas (As palavras nunca morrem. Nunca.), digeri-las e poder conhecer cada um de seu vários significados, cada um de seus vários significantes. E então elas iriam correr no meu sangue , oxigenar meu cérebro.
Estariam em mim.
Seriam em mim.
Seriam minhas em todas as suas mil faces.
E eu preencheria todos os brancos angustiantes ao meu redor porque a minha paz não é branca, ela é da cor de todas as palavras.
Agora mesmo elas me faltam. A sensação é de que alguma coisa não foi dita. Não pôde ser.