MURMURIOS DESCONEXOS DO INCONSCIENTE

 

 

 

Pensando...

 

 

Hoje é domingo.

Infelizmente está muito frio com um vento super gélido e cortante, isso, eu acho que é até normal, pois estamos no princípio do inverno.

Mesmo assim, eu acho que a solidão é mais fria ainda e, como não poderia ser diferente, corta a gente como se fosse uma navalha de guilhotina em serviço.

Na verdade e quase sempre nesses dias, mormente aos domingos, as pessoas parecem que se escondem, não sei o que elas temem, se o frio, a navalha da guilhotina ou o anonimato, entretanto, elas buscam o retiro seguro em suas casas.

Eu faço o mesmo para não fugir a regra, pois se for andar por aí pelas ruas vazias como se fosse um anônimo vagabundo, eles poderiam pensar estar vendo um fantasma fora de hora, desocupado, perdido e sem rumo.

Por incrível que pareça, eu gosto de andar assim mesmo com as ruas desertas, só assim, eu não tenho que está cumprimentando as pessoas, o que eu quero mesmo é a teimosia da introspecção.

As pessoas se acham escondidas em suas casas e pensam que estão escondidas, mas na verdade, eu as vejo me expiando pela janela, pois vejo as suas sombras e os seus olhos escorregando pelas taboinhas da janela veneziana.

Não sei o que elas querem descobrir, talvez queiram até saber o que se passa com os meus pensamentos que são somente meus e dela, mais dela do que realmente meus.

Ela vive teimosamente comigo, como se fosse um fantasma provocando sinapses fugidias e lúbricas, pois está se apoderando da minha consciência como se fosse um nanorobô que circula livremente pela minha mente, esquentando ainda mais a minha cabeça que já anda em fervuras.

Não se admirem de eu estar escrevendo essas coisas desconexas, pois hoje a solidão e o frio tomaram conta da minha inspiração, mesmo que eu queira escrever algo, acreditem, é ela que toma as rédeas do cavalo da minha imaginação e da minha inspiração, e faz com que eu viva somente cavalgando no rodamoinho feito de lembranças suas.

Ela é uma tirana, uma verdadeira déspota existencial e, sem leis e sem documentos, ela apenas exerce a sua vontade arbitrária, me transformando num súdito submisso que só sabe se inclinar às suas vontades e com os olhos baixos em sinal de reverência.

O que estou a escrever, na verdade, não tem sentido, não há nexo algum entre um parágrafo e outro.

Sabem o que acontece?

É que se abriu uma janela lá no fundo do meu inconsciente, talvez seja uma daquelas janelas Killer, uma abertura totalmente alheia a minha vontade, e eu apenas estou deixando o meu “Eu” falar sozinho, para depois se puder fazer uma análise consciente desses murmúrios.

Antes eu vou comer uma maçã, não é aquela maçã bíblica, é uma maçã verde que me dá uma salivação a serviço da gula, é uma idéia muito mais gostosa do que aquela dos pais da humanidade.

Se comer maçã realmente for um pecado, eu sou o mais pecaminoso dos homens ou dos Adãos.

Agora eu vou abrir novamente a minha caixa preta, o meu inconsciente, pois agora atônito aprecio o desfile de momentos do passado: amigos, amigas, filhos, empregados, empregadores, mulheres, e que mulheres! Perfumes, carros, salários, bons salários, carnês, alugueis, prestações várias, ex-amores, amores impossíveis, amores perdidos.

E, por falar em amores perdidos, eles foram os verdadeiros amores da minha vida, porque os amores achados não eram verdadeiros amores.

Para encerrar essas lembranças que ficaram gravadas na minha caixa inconsciente e, como essas lembranças acabaram por levantar lá do fundo do inconsciente esses os amores, agora, eu prometo que ainda vou procurar os amores que foram perdidos.

Esses amores, pobres amores, eles não sabem que o amor é curto, mas longo é o seu esquecimento.

Não consigo mais me concentrar, pois fazem verdadeiros murmúrios o tropel das ondas que se arremessam nas rochas e, para ainda mais me apoquentar, surge uma gaivota que vem obstinada bicar as minhas saudades e as minhas dores.

Escrevi tudo isso simplesmente por falta de inspiração.

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 16/06/2008
Reeditado em 29/06/2008
Código do texto: T1037039