Namorada do Vento
Sou eu a menina que andava descalça nas ruas calçadas daquela cidade. Foi a mim, que você esbofeteou quando me deu doces em troca de carinhos e os versos que não ouvi de ninguém, choram sozinhos na beira da estrada esperando que eu os ouça. Jamais minhas lágrimas secaram, pois ainda lembro das tuas mãos acenando-me, ora chamando, ora dizendo:- vai! E eu sempre ia. Nunca sabia para onde ir, mas sempre chegava a algum lugar, sempre um lugar que não gostaria de estar. Travo uma guerra a cada dia dentro de mim, e assim vou rompendo as barreiras que tu fincaste em meus caminhos. Pobre menina sem teto, sem chão. No cais a vida que sem vida, morria! Sou por sorte andarilho. Namorada dos ventos. Nos meus caminhos ainda encontro troncos e sinto o vento, gemendo. Meu fiel companheiro, ainda de há muito tempo. Lembrança de muitas horas que me vi semeando sonhos, mesmo quando não os tinha, pois eles brotavam de dentro do meu âmago sofrido. Hoje, ainda sou menina e namoro em cada esquina, o vento, pois este o tempo não me toma e não me leva nem me foge a cama. Sou eu, hoje ainda a menina descalça que anda nas ruas calçadas daquela cidade. Onde você passa me acena e me deixa alguns trocados, sangrando!
Lili Ribeiro