5

As portas foram nove e os degraus
Havia um demônio em cada uma
Para punir, sem dó - sem dó nenhuma -,
Com suas legiões de anjos maus...

"Meu Deus! Meu Pai! Jesus! Oh me ajude!...
Como é qu'eu fui entrar nessa desgraça!?...
A agonia é grande! A dor não passa!
Dê-me uma chance a mais; pois como eu pude

Abondonar a luz, deixar a paz!?..."
Falava pra mim mesmo, procurando
Uma saída, um jeito. Então foi quando
Um ser com brilho ardente - não fulgaz,

Estava d'outro lado - além do rio
E disse-me assim: "Você tem uma chance
Mergulhe nesse rio, depois avance
Pois seu na 'City' está vazio..."

Apolião saiu em desespero
Chamou Leviatã, Baal, Moloch,
Para me torturar - me dar um choque,
Olhava-me voraz, cruel e fero

Me disse aquele homem "Tenha fé
A camonhada à Terra Prometida
É árida sozinha é sofrida...
Mergulhe nesse rio o Eunoé...

Para subir a escada de Jacó..."
"Para lugar nenhum ele não vai!
Aquele que entra aqui, jamais sai!"
Baal falou com ódio - ódio só...

Aquele "O Senhor te repreenda!"
Falado com total autoridade
"Miguel!?" Falei surpreso, "eu não mais há-de
Ficar com o cabresto, um venda..."

Saiu de mim um peso oneroso
E um sentimento leve de pureza
Minh'alma estava livre - não mais presa,
Um êxtase senti - divino gozo.

Os demos não se deram por vencidos
Eu nem liguei; porém vi um abismo
"E agora? O que fazer? Que cataclismo!..."
Eu quase que perdi os meus sentidos.

Miguel me confortou: "Olhe pro lado
O Pai nunca permite a dura prova
Não dá um lado, - um outro se renova,
Já há um outro meio preparado"

Eu olhei à direita - e uma ponte -
Era feita de corda e madeira -,
Estava lá tomei a dianteira
Corri para escalar aquele monte.

Miguel falou: "Não temas! Siga em frente!
A vida é uma peleja que não cessa;
Só quando vêm a Morte ora essa,
E, às vezes, ela perde com a gente..."

uma esperança veio-me então
E uma paz também que não sentia
Eu suportei pedriscos que feria
Os pés que ardiam em brasa - um carvão...

Eu alcansei a ponte; só, porém,
Notei qu'estava, então, deteriorada;
Olhei par'água estava ela coalhada
De anuros, sáurios, bufos logo além...

(continua...)
Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 22/03/2008
Reeditado em 25/03/2008
Código do texto: T912335
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.