Sonetos
I
Gira a folha ao vento,
no ciclo da ventania,
fugaz e erradia
como o pensamento.
Baila na vaga e vazia
tarde em esquecimento,
gira na branca magia
do seu esvaecimento.
A folha se arrasta
pelo passeio concreto
da cidade nefasta.
Essa folha sem teto
no seu giro se basta
como um fruto completo.
II
Aquele moço deixou
versos pessoais
que na noite pensou
em insights surreais.
Aquele moço sussurrou
à lua branca, entre abissais
divagações fenomenais
que em forma dúctil plasmou.
À beira do seu corpo frio
encontraram um caderno
lavado pelo rocio.
Dentro dele um inferno
exorcizado pelo cio
do insaciável Eterno.
III
À beira de um fundo rio
divago em suas claras águas,
miríades de vagas
reflexões que crio,
molhadas pelas lágrimas
do meu ser erradio
como o rio e suas plagas,
errante, sinuoso e hostil.
Devorando suas margens,
aquele rio impetuoso
propicia-me miragens.
Em sua beira, desejoso,
embarco em líquidas viagens
ao rio do meu ser aquoso.
IV
Ninguém decifra o olhar
de uma bela mulher,
ninguém adivinha o que quer
nem em que está a pensar.
Um insight qualquer?
Um delírio? Um pesar?
Talvez nem mesmo Bataille
fosse capaz de imaginar.
É um olhar rotundo
de íris em crispações
do seu sentir profundo.
Nesse olhar mil insinuações
palpitam num segundo
o enfarte das más intenções.