Enigmas

Um caminho longo e uma ponte que fala,

um monte gigante e uma flor sob o sol,

no coração do monte há um vulcão flamejante,

o monte está a ponto de entrar em erupção,

e já não sabe o que fazer com o seu fogo ardente,

para que ele não exploda e queime a flor,

que vive de admirá-lo em suas encostas.

Extasiada está sempre aquela pequena flor,

pelo arrebatamento que lhe causa o monte.

Imagina que a flor tem o sonho de tocar seu coração,

e o monte tem um desejo ardente de encurvar-se

até tocar em suas pétalas para ali adormecer seu coração.

Ao lado do monte está aquela ponte inquieta,

sussurrando incentivos de partidas constantes,

vem! Vem! A ponte chama a flor sem cessar.

Como se a ponte também amasse a flor,

e do pé do monte, a ponte a flor quisesse arrancar.

Mas que nada! Que nada! Somente impressão!

A ponte é apenas um enigma que abre a sua boca para reclamar,

mas seus desejos claramente, a ponte não consegue expressar.

No meio da ponte está adormecido o tempo,

que nela, a sua fadiga foi descansar.

Como pode o tempo no meio da ponte assim parar?!

Cadê a força desse tempo que não deseja mais passar?

Há um passarinho que seu bico não consegue calar,

está sempre transportando assobios entre o monte e a flor,

dia vai, dia vem, e o passarinho com seu bico cheio de assobios,

leva aos ouvidos do monte as declarações de amor da flor,

e desce de lá com o bico repleto de assobios do monte,

para entregar fielmente aos ouvidos da flor.

Mas até quando? Até quando?!

Até quando o tempo na ponte vai descansar?!

E por qual motivo o tempo não consegue despertar?!

O monte até que tenta, se esforça para encurvar,

mas o seu orgulho é ainda muito maior que o amor,

que no seu coração sente pela pequena flor.

E o tempo? O tempo até que tenta acordar,

mas a ponte sem perceber segura o tempo,

e no impulso de suas contradições e impasses,

impede o tempo de despertar e mudar as coisas para sempre.

Rozilda Euzebio Costa

26 de março de 2021