Transcendência Teogônica

Teus suntuosos templos e teu arcanjo torto,

Teu destino esculpido pelo oleiro morto,

Teu dúbio julgamento tão firme e mudo,

Tua condenação escrita no Livro dos Absurdos!

Há este asmático ar de uma dor distante,

Saudades dos que partiram para o vale errante,

E há a cristalina água das nossas frágeis memórias

Onde foram batizados nossos amores e histórias,

Onde o andar da inocente criança brinca,

E onde chora uma pueril papoula murcha

E a seiva de nossos risos então se petrifica!

Tudo isto e o canto livre do pássaro lá no alto

O qual voa e tudo vê, vela, vocifera e escuta

O festim dos corvos nas igrejas alvas e turvas!

Entre o anjo e o demônio nessa cósmica luta

Diante do olhar talhado do Cristo Crucificado,

Caminham as preces subpostas pela Fé bruta.

Uiva nas colinas o vento de alegria e de terror

Por tantos e longos atritos de seres contritos,

Com os desbragados e tênues corpos aflitos

E ávidos pelo riso augusto da criança em flor.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 04/12/2020
Reeditado em 05/12/2020
Código do texto: T7127446
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