Transcendência Teogônica
Teus suntuosos templos e teu arcanjo torto,
Teu destino esculpido pelo oleiro morto,
Teu dúbio julgamento tão firme e mudo,
Tua condenação escrita no Livro dos Absurdos!
Há este asmático ar de uma dor distante,
Saudades dos que partiram para o vale errante,
E há a cristalina água das nossas frágeis memórias
Onde foram batizados nossos amores e histórias,
Onde o andar da inocente criança brinca,
E onde chora uma pueril papoula murcha
E a seiva de nossos risos então se petrifica!
Tudo isto e o canto livre do pássaro lá no alto
O qual voa e tudo vê, vela, vocifera e escuta
O festim dos corvos nas igrejas alvas e turvas!
Entre o anjo e o demônio nessa cósmica luta
Diante do olhar talhado do Cristo Crucificado,
Caminham as preces subpostas pela Fé bruta.
Uiva nas colinas o vento de alegria e de terror
Por tantos e longos atritos de seres contritos,
Com os desbragados e tênues corpos aflitos
E ávidos pelo riso augusto da criança em flor.