A voz do teu mar

Ainda agora me lembro do dia

Em que nos vimos ao anoitecer!

Tudo em minha alma ainda sofria

De uma ilusão que vinha de morrer.

Algum gesto calado reteve o teu olhar,

Alguma coisa que de ti desprendia,

Solene como o escurecer após o dia,

E tão triste como a lua sobre o luar.

Só mais tarde é que vim reconhecer

Que esta dor tão camuflada em teu olhar

Era a mesma procura de um ter em teu ser

Ou de um labiríntico fado a divagar,

Pois nos falamos sem nos conhecer,

Enquanto longe rugia a voz de nosso mar!

Teu calmo mar é o meu colérico rio mudo,

Teu longo rio é meu alegre e rompível escudo

Onde o teu ser sisudo tão cheio de intuitos

São as tuas lágrimas em nosso amor agudo,

E este sério silêncio é o nosso gozo desnudo,

E as almas amam-se nesses barcos fortuitos.

As vozes silenciosas do mar a ir e a voltar

São as ondas quebradas do teu oceânico olhar.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 25/11/2020
Reeditado em 26/11/2020
Código do texto: T7120596
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