MONÓLOGO
e o primeiro ato tem início:
ela se posta no palco
que é seu próprio espelho
e começa a encenar a vida
num monólogo pra si mesma
tenta fitar seus olhos
nesse espelho tão cruel
pois a crueldade de se ver
a machuca, a limita
não está acostumada
a se enxergar por dentro
e o que vê de início
não lhe agrada nem um pouco:
há dentro de si vários monstros
que lhe causam certo pavor
o da angústia, o do medo
da culpa, da frustração
outro enorme, do rancor
e outro do ressentimento
sabe que tem de domá-los
e deixá-los se mostrar
porque só assim
conseguirá derrotá-los
e vencer essa batalha
contra seu inimigo maior:
o seu ego mais terrível
que dentro de si ainda insiste
em assombrá-la, em detê-la
então interpreta mais um ato
que é a sua descoberta:
tudo que há de bom
nesta que está no espelho
tem a chance de aparecer
e atuar junto com ela
e se surpreende com a beleza
até então oculta de si mesma:
enxergou-se um ser livre
uma mulher de sonhos e anseios,
repleta de amor e desejos
que ama, que beija, que sabe
o que fazer para "se" agradar
que se encanta consigo mesma
e com as pequenas coisas da vida...
e em seu ato final
pôde enfim representar
o seu próprio papel:
o de seu verdadeiro EU
sem nada mais a ocultar...