A (IN)DESEJAVEL SE ATRASOU
Driblei a morte, que sorte!
Nunca ninguém conseguiu.
Acho que andava distraída,
Espreitando alguma vida,
Mais desejável que a minha.
Foi até fácil pra mim
Nunca vivi muito mesmo
Lá e cá alguma rima,
Vez ou outra um novo verso.
Acho que cansou de esperar,
Ou me deixou pra semente
Foi aí que se enganou
Por fim chegou ofegante,
Com sua foice afiada,
Atrás de alma penada.
E nada em mim encontrou.
Nem sabia que morri,
Da morte mais ultrajante,
Quando me despedi,
Do filho que me deixou.
E num suspiro profundo
Olhou pra mim e chorou.
Sorri e lhe fiz um afago,
Pois até o beijo da Morte
Serve pra um moribundo
Guardei segredo, coitada!
Vai que lhe cortem o ponto.
Ou tenha que prestar contas,
A quem bem mais distraído,
E que debalde me criou.
Foi a única vez na vida,
Que a Morte se apiedou.
Pois só de carne viva,
Faz ela o seu pasto.
Também não bebe o cálice.
De um sangue que se esfriou.
Só contei isso tudo agora
Porque me traiu primeiro,
Pois vai e vem e não me leva
Janeiro após janeiro.