A (IN)DESEJAVEL SE ATRASOU

Driblei a morte, que sorte!

Nunca ninguém conseguiu.

Acho que andava distraída,

Espreitando alguma vida,

Mais desejável que a minha.

Foi até fácil pra mim

Nunca vivi muito mesmo

Lá e cá alguma rima,

Vez ou outra um novo verso.

Acho que cansou de esperar,

Ou me deixou pra semente

Foi aí que se enganou

Por fim chegou ofegante,

Com sua foice afiada,

Atrás de alma penada.

E nada em mim encontrou.

Nem sabia que morri,

Da morte mais ultrajante,

Quando me despedi,

Do filho que me deixou.

E num suspiro profundo

Olhou pra mim e chorou.

Sorri e lhe fiz um afago,

Pois até o beijo da Morte

Serve pra um moribundo

Guardei segredo, coitada!

Vai que lhe cortem o ponto.

Ou tenha que prestar contas,

A quem bem mais distraído,

E que debalde me criou.

Foi a única vez na vida,

Que a Morte se apiedou.

Pois só de carne viva,

Faz ela o seu pasto.

Também não bebe o cálice.

De um sangue que se esfriou.

Só contei isso tudo agora

Porque me traiu primeiro,

Pois vai e vem e não me leva

Janeiro após janeiro.

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 04/01/2017
Reeditado em 01/01/2018
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