Uma Gota Noturna
Uma gota de sêmen é vertida pelos olhos tristes da noite,
Cai agonizante no desértico asfalto da rua.
Essa gota grita, se convulsiona, clama, chora em vão,
E o silêncio a asfixia com as próprias mãos sem hesitar.
Compadecido (sob o testemunho da fria luz abandonada do luar)
O vento volve, entre os próprios braços, o cadáver da gota noturna,
E a transporta maternalmente para o útero de um silêncio esquecido,
Onde todos os solitários, suicidas, apaixonados e incompreendidos
Estão reunidos na última perpétua ceia do amanhecer
De seus profundos, insaciáveis, insanos, mas vívidos e misteriosos
Corações sedentos de amor e amparo os quais jorram
Cálices apolíneos desses renascimentos que brilham
Nas profundezas de suas almas herméticas, confusas e floridas.
E as portas do Paraíso Perdido e Esquecido
Acolhem sem julgamentos e com os braços abertos
A todos os olvidados e vilipendiados pela vida e pela morte.