Mítica Existência
Seguindo o novelo de lã que as mãos de Ariadne teceram
Busco escapar dos labirintos mefistofélicos da insensatez.
Como Sísifo, empurro com meu coração do Amor a embriaguez,
Condenado a nunca acariciar os lábios que antes me reviveram.
Sou o Orfeu a salmodiar com minha lira os infernos de meu ser;
Mas os olhos de minha amada se apagaram para o meu fulgor.
Thanatos escurece os orvalhos e os olimpos de todo alvorecer,
E Cronos segue corroendo as raízes de meu destino e de meu vigor.
Hoje o fogo da Razão é uma águia ébria a devorar o meu alento;
Hoje o rio Estige brota o farol do Sheol que esmaga tuas esperanças?
Hoje a vida é um vão purgatório que não expia os teus tormentos?
E o amanhã decapitará os horizontes de qualquer fruto de bonança.
E serei outra sombra de mim mesmo encarcerado na pueril lembrança
De um porvir que só nos gerará lágrimas, lápides e torpes lamentos.