Busca interior
Quero enrolar-me, enclausurar-me
enovelar-me no mais fundo azul de mim
Quero sentir todos os meus músculos
toda a minha pele, todos os meus poros
Quero contorcer-me como gata ou serpente
Quero penetrar em mim mesma
até redescobrir a seda do meu ventre
e o veludo macio de minhas pernas
quero vivenciar emoções eternas
e navegar neste azul uterino
quero sorver a minha solidão
trespassando a pureza desta cor
extrapolando o espaço de minha razão
Serei menina perdida
nas minhas lágrimas de assombro
enquanto procuro pérolas coloridas
que guardarei em minhas mãos
para entregar àquele que as mereça
àquele que dominar meu coração
Avistarei monstros imensos
assomando perto de mim, e deles fugirei
sabendo que tais criaturas sinistras
tentarão arranhar e morder o meu corpo
há muito a ti prometido...
Sei que sangrarei e muito sofrerei, mas
murmurando o teu nome
prosseguirei sorvendo o azul
cruzarei céus e montanhas de norte a sul
buscarei o tesouro como uma ave com fome
Da minha pele rasgada brotará a minha paz
a minha angústia vaga e pagã
transmutar-se-à em fé e esperança
haverá em meus olhos um brilho
como se vê nos olhos da criança
e o meu rosto refletirá serenidade
Mais tarde, uma força telúrica
lançar-me-á sobre o teu dorso suave
e no teu olhar vislumbrarei
a revelação de uma suave alvorada
o resplandecer de uma era abençoada
Serei então loba apaziguada
aguardando a marca dos teus lábios
no meu ventre ansisoso por ti
e todo o meu corpo sorrirá, extasiado
Junto ao teu rosto deporei as pérolas
testemunhas de uma navegação só minha
e elas serão nosso maior tesouro
a lembrança da busca insana que fiz
até encontrar-te e não ser mais sozinha...