Poema I

Há pouco, tresloucada, veio a fúria

Advinda das procelas dos neurônios

E branca, qual marfim, dormia impura

Na imensidão hermética dos meus sonhos!

E a cura, tão esparsa e reticente

Utopia, fulmina o dorso e, lenta, faz

Da sua procura um vasto e imponente

Dom hercúleo de viver pelos sinais!

Oh, jamais! tua dormência circunforme

Nas indignações humanas. Todos sofrem

A morte dos amores! Deixa-me o mormaço

Que entope-me as narinas! Outros as descobrem!

Vem os teus vacilos em corte, qual

Morcegos a chocarem-se aos muros

E mesmo assim a sede, sempre igual,

Lateja o sangue nos meus versos duros!

Amo-te, pelos sons. Tua algaravia

Nas vertentes dos ideais sentidos,

Nas mentes sibilantes a sinfonia

Tua, servida aos sintéticos ouvidos

Na carne passeiam penumbras estranhas

Em formas inferiores. O início da vida

É o símbolo fraco que jaz no ângulo

Esguio da eternidade. Ela: entristecida.

Há pouco, tresloucada, veio a fúria

Advinda das procelas dos neurônios

E branca, qual marfim, dormia impura

Na imensidão hermética dos meus sonhos!

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 24/05/2014
Reeditado em 26/07/2014
Código do texto: T4818610
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