Poema I
Há pouco, tresloucada, veio a fúria
Advinda das procelas dos neurônios
E branca, qual marfim, dormia impura
Na imensidão hermética dos meus sonhos!
E a cura, tão esparsa e reticente
Utopia, fulmina o dorso e, lenta, faz
Da sua procura um vasto e imponente
Dom hercúleo de viver pelos sinais!
Oh, jamais! tua dormência circunforme
Nas indignações humanas. Todos sofrem
A morte dos amores! Deixa-me o mormaço
Que entope-me as narinas! Outros as descobrem!
Vem os teus vacilos em corte, qual
Morcegos a chocarem-se aos muros
E mesmo assim a sede, sempre igual,
Lateja o sangue nos meus versos duros!
Amo-te, pelos sons. Tua algaravia
Nas vertentes dos ideais sentidos,
Nas mentes sibilantes a sinfonia
Tua, servida aos sintéticos ouvidos
Na carne passeiam penumbras estranhas
Em formas inferiores. O início da vida
É o símbolo fraco que jaz no ângulo
Esguio da eternidade. Ela: entristecida.
Há pouco, tresloucada, veio a fúria
Advinda das procelas dos neurônios
E branca, qual marfim, dormia impura
Na imensidão hermética dos meus sonhos!