É um milagre acreditar 
em alguém.
É um milagre a chuva 
depois da seca.
É um milagre a palavra 
depois de tanto silêncio.

Silêncio mouco.
Silêncio mouro.
Silêncio, sem reticências, sem alma e
sem nada.
Silêncio bizantino.

É um milagre a porta se abrir.
Ver do cais o navio partir
para além do horizonte.
E na geografia da imaginação
perdê-lo.
Desaparecer como se fosse
apenas memória
e nunca real.

É um milagre olhar seus olhos.
E enxergar alguma vida.
Ver alguma expressão
bipartida e bipolar...
De ira e de amor.
De tristeza e alegria.
De dúvida e fé.

É um milagre o encontro.
A interseção de duas ruas,
duas rotas,
e duas estórias.
Duas genéticas.
A substanciar-se numa.
E escrever o híbrido
diferente para sempre.

É um milagre tantos se
parecerem com apenas um.
E um ser tantos
ao mesmo tempo.

Ser singularmente
múltiplo.
Ou diversarmente
singular.

É um milagre esse vento
a sussurrar mensagens
semânticas
que vêm de longe.
De outras bocas,
outras línguas e culturas.

É um milagre
reconhecer milagres.
Misticismo.
Crenças.
Novenas.
Velas e preces.

 Navegar entre rituais e
símbolos.

Todos os milagres
em palíndromo
Lidos diariamente.

Sob diferentes ângulos
Em vetores convexos
para a alma
em ebulição.

É um milagre
esse fogo
não consumir tudo.
Apenas acender
a capacidade de crer.
Crer e descrer.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/05/2014
Reeditado em 24/05/2014
Código do texto: T4818324
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