Meu tempo não é o tempo da terra
Nem das nuvens ou do vento.
Meu tempo é o das águas,
é o tempo das chuvas,
dos suores e das lágrimas.
Esse tempo que liquefaz as dunas
mareja os olhos ,encharca o solo
Por onde vagam naus de sonhos
no ritmo líquido de navegar.
É o tempo das profundezas
De sentimentos em gotas
De aquosos desfalecimentos
E encontros na arrebentação.
Por entre grotas e arrecifes
por entre conchas e líquens
minha existência é pura decantação
e meu ofício é o de sossobrar.
Porque tudo é água ou nada:
Os rios, o mar, o sangue,
o pranto, a saliva, a morte
ou as nuvens que se desmancham
no físico ato de condensar.
E tudo é cíclico, e vai e volta
e submerge e vem à tona
nas águas que me destinam
as míticas lendas do azul do mar.
Marcia Tigani_maio 2014