É deserto.
Há um silêncio de marfim
erguido diante da torre de ébano.
É deserto.
O coro das crianças emudeceu.
Os anjos perderam as asas.
E as nuvens esvairam-se
Num céu límpido e tórrido.
O sol queima retilíneo.
Encrava sombras nas areias
finas e ressentidas por pegadas.
O astro-rei nos faz súditos
sedentos.
E a cada passo, o corpo derrete
ainda vivo.
Procurando sobreviver numa
sombra imaginária.
É deserto.
O camelo cambaleia ritualístico.
Altaneiro e compassado.
Chegamos ao oásis.
Alguma água
mas ainda o sal presente
nos maltrata ao paladar
e a pele já tostada de
tanta irradiação.
É deserto
Mas há tanta vida nos
ratos, nos restos
nos flancos e nas dores
em carne viva e seca.
Meus olhos não lacrimejam
Não querem adicionar mais sal
ao que já há por aqui.
É deserto.
Ao abrigo do oásis.
Lembro do resto da caminhada
Até a aldeia perdida no
meio do nada.
Aqui sobre esse imenso
céu estrelado.
Somos coriscos
a rascunhar a vida.
Alguma vida.
É deserto.
Mas trago tudo comigo.
Minhas lembranças.
Meus amores e desamores.
Meus calores
que tão intensos e tépidos
Arquitetam rubrores e
rudezas.
Ainda trago comigo.
Minha infância falida.
Minhas carências recolhidas
nas folhas destacadas
de um bloco usado.
É deserto.
E na profusão de afetos perdidos.
Sempre resta uma brisa sauve.
A soprar as feridas.
A sibilar segredos de
despertencimento do caminho.
Sou o deserto
em meio do abismo
a girar frenético num
relógio contemporâneo.
Há um silêncio de marfim
erguido diante da torre de ébano.
É deserto.
O coro das crianças emudeceu.
Os anjos perderam as asas.
E as nuvens esvairam-se
Num céu límpido e tórrido.
O sol queima retilíneo.
Encrava sombras nas areias
finas e ressentidas por pegadas.
O astro-rei nos faz súditos
sedentos.
E a cada passo, o corpo derrete
ainda vivo.
Procurando sobreviver numa
sombra imaginária.
É deserto.
O camelo cambaleia ritualístico.
Altaneiro e compassado.
Chegamos ao oásis.
Alguma água
mas ainda o sal presente
nos maltrata ao paladar
e a pele já tostada de
tanta irradiação.
É deserto
Mas há tanta vida nos
ratos, nos restos
nos flancos e nas dores
em carne viva e seca.
Meus olhos não lacrimejam
Não querem adicionar mais sal
ao que já há por aqui.
É deserto.
Ao abrigo do oásis.
Lembro do resto da caminhada
Até a aldeia perdida no
meio do nada.
Aqui sobre esse imenso
céu estrelado.
Somos coriscos
a rascunhar a vida.
Alguma vida.
É deserto.
Mas trago tudo comigo.
Minhas lembranças.
Meus amores e desamores.
Meus calores
que tão intensos e tépidos
Arquitetam rubrores e
rudezas.
Ainda trago comigo.
Minha infância falida.
Minhas carências recolhidas
nas folhas destacadas
de um bloco usado.
É deserto.
E na profusão de afetos perdidos.
Sempre resta uma brisa sauve.
A soprar as feridas.
A sibilar segredos de
despertencimento do caminho.
Sou o deserto
em meio do abismo
a girar frenético num
relógio contemporâneo.