Utopia

Flanei pelas ruas, buscando sei lá o quê.

Nas vitrinas, consumo e cores.

Nas calçadas, panfletos e bitucas de cigarro.

Seres anônimos passaram por mim, semblantes sérios, passos apressados.

Escravos das horas, servos do trabalho.

Eu, um vagabundo nauseabundo os invejei,

Sempre tão ocupados, sempre em cima da hora, sempre indo para algum lugar.

Meu ócio me envergonhou e, num banco de praça, ocioso me envergonhei.

Depois, em casa, deite-me, ronquei, babei, sonhei.

Com um mundo desocupado sonhei, todos poetas e filósofos

Contempladores do universo, sem relógios nem rugas de preocupação.

Apenas o tempo a passar sem que ninguém se preocupe com ele

E a vida a ser vivida sem que por ela dessem conta.

Vagabundo vaguei pelas vielas do sonho,

E lá encontrei sei lá o quê.