A princesa e o falcão
A princesa e o falcão
Um tenebroso muro de inação me cerca, a apagar escritos bailantes, blasfemos gritos de minha mente inquieta; venenos que mal fecundei...
Atos, ainda nas fraldas da especulação, jazem natimortos; rotos, a balouçar nos varais de uma infecunda falta de vontade...
Que maldade!!! De minha garganta caótica escoa uma gargalhada tétrica ao pensar sobre a frase feita, sob medida, proferida solenemente pelo emérito pensador de ocasião...
E, ao redor de mim, plateia e ator dessa comédia mambembe, um cardume de vorazes piranhas desfila em seus trajes fulgurantes...
Foi então que eu os vi...
Eu juro que vi, meu amor! À bordo desse carrossel de horrores a que se dá o nome de Vida, eu presenciei uma princesa encantada a perder-se de amores por um falcão...
(Era uma tarde de Quarta-Feira e eu não havia tomado a parafernália de tranquilizantes que o psiquiatra me recomendara peremptoriamente)
Talvez só por isso eu os tenha visto: por não me ter entupido com o receituário aplicado, por um fragmento de tarde em que fiquei lúcido...
Eu vi a princesa a voar com o falcão, a se presentearem mutuamente com as fantasias mais loucas, a deixarem evolar pelas nuvens do céu o doce cheiro de seus corpos em gozo expandido...
Não foi sonho, meu amor...
Eu os vi!!!
Terra dos Sonhos, manhã de Quinta-Feira, Quinto dia depois da Lua Azul de Agosto de 2012
João Bosco