PRÁXIS E JUÍZO*






A leitura de Heráclito
É sempre oracular
É revolução encíclica
E tem muito paladar...

Sem juízo, sem tutor
Descobre no ser, o véu
Do Logos que tem valor...
Sabe da terra e do céu

Do sagrado e do profano
Pensante firme, é limite...
Sem pudor, baixa o pano,
Mas no juízo insiste...

Monólogo é sua loucura
Revela-se um ermitão
Insone, vigília desnuda 
A razão e a emoção...

A teoria heraclitiana contém os avanços, do seu Logos, sua razão revolucionária, mas traz também contradições, que se originam no conflito entre sua teoria e sua personalidade. Mas, em absoluto não atinge o seu valor. Entre estas teorias aparentemente antagônicas _ Parmênides: “Unidade e imobilidade do ser” e Heráclito: “Tudo em perpétua mutação”_ é possível achar um mesmo todo para os dois. Esta oposição entre as duas visões passa a ser cada vez menor...

No seu arremate Parmênides considera “... toda mudança é ilusória, o que existe é o ser e o não-ser.” O vir-a-ser de Heráclito, é ilusão sensível. Todas as percepções dos sentidos criam ilusões, nas quais, temos a tendência a pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser (devir) tem um ser. Pensamento que acaba encontrando um elo entre as duas concepções.

O Poema “Práxis e Juízo”, situa-se num patamar de crítica a postulações apressadas e equivocadas, que o imaginário popular hilariamente reconhece, e que Heráclito com certeza ficaria louco de vez... “ Nem tudo é o que parece” ou “ Nem tudo que balança cai”, e assim por diante... Este poema, realça ou justifica, a construção crítica, ainda que rançosa ( pessimista) de Heráclito. Na mesma linha de reflexão, terra e céu, são colocados como significantes de conotação, de convite reafirmativo ao desenvolvimento da razão e da emoção...

Aquele que é considerado o “fogo eternamente vivo” considera loucura a falta de ascensão do censo comum ao seu Logos: “...Esses loucos que quando ouvem estão surdos.”Seu discurso é oracular, porque suas frases, seus fragmentos (126), são flash. Uma criptografia para instigar o pensamento: “É sábio ocultar não a mim, mas ao meu discurso (Logos), e confessar que todas as coisas são Um.” É este o estado de diferença entre as expressões heraclíticas sono e vigília.

Pode-se concluir, assim, que o Logos heraclítico é unidade descoberta pela inteligência em vigília. A distância que separa as palavras do pensamento (Logos) é a mesma, entre a inteligência privada “ o sono” (onde a mentalidade vulgar está imersa) e a inteligência comum “ a vigília” ( aqueles que atingem o nível de reconhecimento da tese “todas as coisas são Um”).

É uma condução do Logos, no repensar a prática, “práxis,” que deveria convidar o leitor a não exibir um juízo de valor, mas a análise em si mesma, para deixar nascer o pensamento crítico. Não seria, necessariamente um julgamento, uma condenação, mas um entendimento da mensagem, para que esta tornasse possível estruturar, ou consolidar, novas construções. É este o valor da práxis... 

Poema e excerto inspirados no Poema “Logos Heraclítico” de Luiz Guerra talentoso cronista e poeta recantista, também presente em outras instâncias privilegiadas da net.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/369769  

Composição Inédita!


* Núcleo Temático Filosófico.

Ibernise M. Morais Silva. Indiara (GO), 16.02.2007.
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.