No Meio do Meu Mundo
No meio de meu mundo perdi alguma coisa.
Perdi alguma coisa no meio do mundo.
Contudo, o que perdi no meio do meu mundo?
Como sei que algo perdi, se nem sei o que algo conquistei!?
Será que perdi o meu mundo, o meu trajeto; será que perdi a mim mesmo?
Ou será apenas a sensação ilusória de que algo perdi?
Mas sinto que perdi alguma coisa.
E se não houver nem mundos, nem trajetos,
Nem sonhos e nem alguma coisa a se perderem?
Porém se não há nada, como meu ser sente que alguma coisa foi perdida?!
No Meio do Mundo já não há mais mundos;
No Meio do meu Mundo já não há mais coisas;
No meio da Vida só há palavras e desejos adubados com equívocos?
Contudo ainda é intensa esta interrogação pluri-afirmativa:
No Meio de meu Mundo perdi alguma coisa,
Alguma coisa nem sempre é algo que se imagina ser.
Todavia, se não há no meio de meu Mundo
Nem pontes, caminhos, amigos, nem pedras olvidadas por anáforas, e nem trajetos,
Por onde devo retornar, e para aonde irei?
Ir? Voltar? Permanecer onde se está?
Não há outros estados e estágios e transições
Onde e aonde eu nem volte, nem vá e nem permaneça inerte?
Como me afastei tanto de mim, se sempre fiquei ao lado de mim mesmo?
Como permaneci tanto tempo dentro de mim, se quase sempre estive fora de meu corpo?
Como pude me esquecer tanto de mim, se meu auto-esquecimento sempre recordou quem sou?
Perdi a minha perdição em pensar que algo perdi.
Perdi a Intransitividade de meu próprio perder.
Alguma coisa, que nem sei que se pode chamar de coisa, perdi
No meio do meu mundo...
Sempre se perde o que se afirma ter e haver.
No Meio de Meu Mundo, onde talvez nunca foi “meio”, nem “meu”, e nem “mundo”.
Gilliard Alves Rodrigues