Sou um sapato
      quase velho
      tiras estragadas
      cadarços empoeirados
      couro gasto
      cor desbotada.

      Sou um sapato
      quase velho
      que um dia calçou
      os pés da morena
      do moço maroto
      do velho tosco
      da mulher assanhada.

      Sou um sapato
      quase velho
      na beira da estrada
      jogado a ermo...
      sem termo
      sem nada.

      Sou um sapato
      quase velho
      que um dia
      esquentou
      o teu olhar
      ensombrado
      que um dia serviu
      aos caprichos...
      alados.

      Sou um sapato
      quase velho
      agora na sarjeta
      eu busco uma besta
      que queira usar...
      esse farrapo
      quase humano
      que insiste
      calçar.

      Sou um sapato
      quase velho
      lágrimas em coro
      para o teu
      coração
      despertar.

      Sou um sapato
      quase velho
      àquele sapatinho
      encantado...
      da sua janela
      que ficou a esperar
      pelo presente
      sonhado...

      Sou um sapato
      quase velho
      e de novo...
      quero
      alegrar
      enfeitar
      amarrar
    e que sabe
      um dia...
      silente...
      vais calçar.

    Sou o sapato...
     quase velho,
       que mora
         no teu
          olhar...



 

Elzana Mattos
Enviado por Elzana Mattos em 26/07/2011
Reeditado em 26/07/2011
Código do texto: T3120274
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