Ode Profética
As Pupilas dilatadas do Vento teclavam acordes agudos
Os quais nadavam no oceano das improbabilidades corriqueiras das exceções;
Quando as montanhas fumegantes galopavam nas trincheiras cadavéricas da paz vingadora,
As línguas de fogo dos espíritos errantes cuspidos pelo ódio incandescente do tempo
Formavam auréolas por cima dos cumes dos morros amaldiçoados
Pelas bênçãos sanguíneas escarradas pelos profetas de Baal.
Na penumbra do rio do Esquecimento onde os discípulos de Narciso
Reuniam-se para celebrar Dionísio,
O testemunho implacável vertia pelas feridas da jumenta de Balaão
E das chagas dos muros de Moabe,
Flagelada pelo silêncio suicida de Cristo,
Nas abas dos júbilos dos sete altares da prostituição miscigenada
Que chicoteavam seus vassalos narcotizados de profissões e afazeres,
E as árvores do Éden degolaram as raízes sagradas de seus próprios corpos.
Roubei todas as moedas moribundas entregues pelas almas dos mortos a Caronte,
Decapitei Buda com as cordas sonoras de seus ensinamentos
Enquanto o mesmo adormecia na paz de seu transe nirvânico,
Trancafiei todas as minhas ilusões nos pensamentos epiléticos de Maomé,
Entreguei na realidade onírica do poder os novos evangelhos
Das poligamias doutrinárias a Joseph Smith,
Copulei com as entranhas da Noite atrás do trono de cada divindade,
Estive em tudo e fui tudo, mas ninguém me viu em seus reflexos hipotéticos.
Enquanto a Vigília esquizofrênica da Luz Vespertina de Prometeu
Asfixiou os dois querubins bêbados de convicções
Que guarneciam o Jardim da Perdição
De onde nossas almas se salvaram abandonando-o.
As Palavras escritas até aqui neste papel com meu sangue imaculado e satânico
Olhavam-me com tal pavor e repulsa
Que senti todos os ossos adamantinos de minha sombra
Serem quebrados pelo fôlego de vida exalado em meus pulmões metonímicos
Pelo rugido sussurrante das mãos de Deus.
Flutuava com os dois pés condoreiros no chão opaco da realidade
O estandarte negro-escarlate de tua essência dessubstancializada predicativamente
Pelos embustes semeados por tua mente
Nas glebas assassinadas de tua alma glacial.
Gilliard Alves Rodrigues
Acaraú, 16 de Junho de 2011
15H55min