Historicidade Poética
Meus pés esmagam a serpente de seis olhos do Embrutecimento;
Minhas mãos rugem o fogo da Criação e os tambores da Destruição;
Enquanto Pazuzu acaricia o recém-nascido com seus dedos eólicos,
Ao som da fúria que sangrava as retinas da lua
Pelo hálito corrosivo de Imashut.
Assurbanipal recolhia as crianças assírias degoladas tão poeticamente,
Aos clamores e lágrimas de fogo que ecoavam de Nínive.
Cada cidadão embalsamado em suas funções e disfunções sociais,
Mas ninguém ouvia a fumaça que dançava no céu dos Campos de Trigo,
Ceifados pela tristeza de Zoroastro.
A Taça ingere os segredos que se ocultam na Cicuta,
E meu corpo é o Cálice de todas as taças que enjaulam
Os mortíferos mistérios do Universo;
O Tudo e o Todo entoados e diluídos no vácuo
De meu corpo psicografado no mundo pela Morte.
Os Vasos da Ira de todos os oráculos urram das fendas neurais de minha alma,
Onde jorram os gritos aflitivamente palpáveis dos Campos de Batalha.
As cinzas do corpo indestrutível de Deus
Sussurram-me uma confidência tão monstruosa,
Que doze legiões de cidadãos inocentes são enforcadas
Nas catacumbas de meu cérebro.
{Pai, por que me abandonaste?}
Despencam do céu os treze signos do Zodíaco
Em meu copo de vinho helênico;
E as Sombras dos Espíritos emudecidos dos filósofos pré-socráticos
Entregam-me a Chave da Revelação do Inaudito...
O Cordeiro imolado que tinha sete chifres e sete olhos
Desceu de seu próprio trono encharcado de sangue espiritualizado,
E prostrando-se com a face ao chão,
glorificou-me com adjetivos inefáveis,
E os quatro seres viventes diziam: Amém.
Venham meus irmãos Espartanos, Pretorianos e Arianos:
Queimem os totens conceituais e ideológicos que firmam ainda a sociedade.
Fundir todas as divindades em apenas um só Deus,
Devido a sentimentos de carência e desamparo individual e existencial Paterno como Édipo,
Matando o pai e gerando com Gaia um nada Onipotente como Pai, como abrigo, como força;
Um nada personificado pelo remorso, medo e ignorância,
E cegar-se ao contemplar a beleza hedionda de seu parricídio,
Enquanto Aristófanes morria engasgado de tanto rir
Ao vislumbrar neste ateliê as obras-primas de absurdos, comedias e mentiras.
A Escuridão estrangulou a Luz,
Desmistificando as matemáticas de ser, de viver, de construir;
O ventilador me observava com tal zelo
Que me senti completamente despido e indefeso.
Os Espelhos só refletem o que nunca vemos.
{Pai, por que me abandonaste?}
Tulipas brancas e vítreas ancoradas em ebulições anacrônicas nos cais do Tempo,
Rindo da força humana cuspida pela Fraqueza nos óvulos e espermatozóides,
Que não são e ainda estão onde jamais estiveram.
O que é jamais foi;
O que foi nunca será.
Compreender o que se pensa pensar, e Pensar o que não se compreende
São duas fronteiras que geram outras fronteiras inultrapassáveis.
Fui vencido pela Vitória de vencer.
Me auto-leio no horizonte escurecido pelas Mágoas;
Me auto-vejo nas pedras navegantes que me geraram;
me auto-sinto nos campos líricos do Alheamento;
me auto-escuto no silêncio cinza e opaco de minha alma
tão transbordante de sinfonias crepusculares, e pianos desafinados.
O Dilúvio, que brotava de minha alma cósmica,
Afogou todo o Universo;
E o Alento da Vida e da Existência se evaporaram
Eternamente nas águas áridas do Jordão que,
No sétimo dia irreal do calendário,
Se auto-consumiu no fogo nirvânico do descanso eterno e mudo!
{Pai, por que sempre nos abandonaste?}
Gilliard Alves Rodrigues