As Disparidades Congruentes da Alma
Perdi o que nunca tive;
Amei o que não era amor;
Sou o que nunca serei;
Estou onde algo jamais esteve e existiu.
Conquistei tudo o que não planejei;
O Infinito é expirado pelos pulmões de um único pensamento meu;
Transbordei-me no ex-cesso da Escassez,
Nublei-me para ensolarar o azul celeste defecado de minha Escuridão interna;
Ressuscitei-me para acasalar-me com a Morte em seu tabernáculo;
Ceguei os sentidos somáticos para enfim enxergar o âmago de Tudo;
Desmembrei-me nas re-composições esquartejadas,
Todavia sempre falta a ausência da Ausência: algo a ser dito,
Escrito, afagado, observado, ou feito.
Na Lucidez de minha lírica embriaguês,
No Lirismo ébrio de minha sensatez,
Eu chorei o pôr-do-sol da Vida.
Afundei-me no Abismo mais profundo para vos salvar de vossa superficialidade;
Queimei-me no frio ígneo de minha Tristeza intransferível,
Mas me sorrias como se realmente entendesses minha complexidade.
O Amanhã preterizado pela Memória desumana no Hospício do Tempo;
As Mágoas insepultas exumadas pelas mãos cadavéricas do Amor,
Tudo isso durante o banquete colossal da Dor
No mundo abstrato onde os pés pensam que tocam as membranas do chão,
E as mentiras se trans-ferem de cada célula, órgãos, e retinas.
Minha sombra acaricia com tantos remorsos no corpo
Os prantos que lacrimejavam de minha graciosa e calejada mãe.
As cicatrizes inapagáveis do silêncio flagelante que emanavam
De meu Pai ébrio, ausente, fornicador e doente de si próprio;
E todos os dias havia moinhos-de-vento quixotescos ensurdecedores
Que calavam o amor familiar em cada cômodo da casa,
Enquanto as transgressões da Existência sangravam pelos olhos de cada estrela cósmica,
E nada conseguia expiar, justificar, e apagar as execráveis ignomínias fétidas
Obradas cancerigenamente por Deus e pela Humanidade.
(Well-Come aos inúmeros Oásis transliterados atualmente de “curandeiros” do corpo ou da alma, mestrados no vampirismo das moléstias e desgraças de cada indivíduo:
Médicos, Escritores, Psicólogos, Delegados, Funerárias, Padres, Pastores, Repórteres,
Supermercados, Bancos, Planos de Saúde, Funcionários Públicos, TV, Governo, etc.)
Nos Progressos evolutivos das Angústias,
Nas Angústias dos Progressos Evolutivos da Involução
As mentiras, os alheamentos, as descobertas e as invenções são re-produzidas.
Suicidamo-nos lentamente inoculando a Vida
Com todas as suas ramificações insanas e lógicas, desde as raízes de si mesma,
Em nossas veias decrépitas, mascarando-a com qualquer
{coisificação aceitável e utilizável.
Porém colhi de todos os Vales inóspitos do Mundo
A Luz moribunda das disparidades congruentes de minha alma,
E vivifiquei-a no útero das feridas incuráveis de meu Ser semimorto.
As Preces oravam em prol de sua própria Redenção,
A Surdez ouvia os presságios hipnagógicos das casas, apartamentos, ruas, bípedes néscios...
As árvores, temerosas, ajoelhavam-se com os semblantes delirantes;
O sol asfixiou-se pela fumaça de sua autocombustão,
E os Quatro cavaleiros do Apocalipse dizimaram brutalmente
As falanges celestiais e a santíssima trindade de todas as crenças e religiões,
Sob o testemunho implacável da árvore onde Judas foi predestinado a se enforcar
No sagrado Campo do Oleiro,
Sendo que ainda clamam por vingança até hoje
As 30 Moedas de prata contra a Traição assassina do Traidor ONIPOTENTE.
Agora, bebo-me até a última gota de mim mesmo,
E o Universo se dilacera em meu estômago.
O Todo se divorciou de cada Parte,
Cada Parte evadiu-se para dimensões insondáveis do Todo,
E o Cosmos da Vida dilatava seu próprio vácuo cego e insano de abiogêneses em tudo.
Senti o que não havia,
O que havia já não mais senti.
Não Penso onde existo,
E nem Existo onde penso.
Vi nitidamente o que não era,
Mas o que era eu não vi.
Desejei a Vontade de sempre mais desejar,
Contudo o desejado eu desejar já não quis.
Os Pensamentos das sensações e as Sensações do Pensar
Formam os Espelhos das Realidades onde estamos e não vemos,
E vemos o que não é.
O que Existe não há,
E o que há já não existe.
O Sonho adormece as realidades,
As Realidades sonham que estão acordadas,
Pois Tudo o que é Irreal é Racionalizado,
E Tudo o que é Racionalizado é Irreal.
O Poço de vossa decadência maquiada reflete
A face en-torpe-cida de vossa alma manicomial.
Beijou-me nos lábios a Indiferença disforme de cada molécula, ser e ente,
E abandonei todas as coisas, idéias e seres
para no Vazio Infinito de Mim
{finalmente me auto-encontrar.
Gilliard Alves Rodrigues
P.S: Dedico este “poema” a meu genial irmão, Leidivan Alves, a quem a Vida me concedeu a maravilhosa dádiva de tê-lo ao meu lado por inebriantes interstícios de minha existência disforme. E seu Riso, suas Brincadeiras, Aventuras, Jogos encharcados de imaginação, Amor e Inteligência ainda brilham nos Jardins paradisíacos, porém perdidos nos Bosques inacessíveis de nossa sagrada Infância colhida pelas inexoráveis mãos do Passado, mas ainda inabalável e pulsante de Vida, Orquídeas e Lírios entre incontáveis ciclones que relampagueiam em minha memória, cérebro, corpo e alma. Quão te admiro e te venero meu afetuoso irmão.