Não Se Esqueça
As ruas do Rio têm muito lixo,
Muito gari, mas muito lixo.
As ruas do Rio têm muita gente;
Tem ônibus, mas muito carro.
Meus óculos são grossos,
Mas sem eles
Sei ver também
Com os sonhos,
Desejos
E no dizer do amém.
Nos ares do Rio há poeira;
Tem helicóptero, parapente,
Mas da sujeira não se foge não.
E o meu fulgor...,
O seu pudor,
Nosso favor...
O Rio de que falo não é d’água não;
Tem água doce, tem salgada,
Mas não é só praia não.
Mas não se esqueça,
Não se esqueça
Da beleza
Da iniciação.
O meu Rio, Rio lindo
É de Janeiro,
Mas é do mundo
E mundo é do ano inteiro.
Falando em mundo
Qual seria a razão
De falar do Rio
Sendo ele, do mundo,
Apenas parte de seu quinhão?
Agora digo:
É a cultura
Que a mim cabe
E a qual estou a altura.
Mas nunca deixo de pensar no resto todo
Que esmagaria por total
Este pontinho em que vivo no litoral.
E é assim que a consciência
Deve funcionar;
De lá pra cá, de cá pra lá,
Todo mundo deve se olhar
E ver no velho algo novo
Do que se possa orgulhar.
Por isso não se esqueça
Nunca se esqueça
Da beleza
Da beleza...