Nimbos - glosa Augusto dos Anjos

“glosa Augusto dos Anjos”

Nimbos de bronze que empanais escuros

O santuário azul da Natureza,

Quando vos vejo, negros palinuros

Da tempestade negra e da tristeza,

* * *

Nimbos de bronze que empanais escuros

a alvura dulcificante de toda parte etérea,

vêm a mim, pétalas de anjos passageiros,

quando há solitude adormecendo flórea!

Tudo que pelos meus olhos passa, flameja;

o santuário azul da Natureza,

luminoso lago dos céus desce e andareja,

em meu sonho adentrando, doce pureza!

Cachos de neve imaginários vêm morar

na mente, rainha de mundos forasteiros,

quando vos vejo, negros palinuros,

sinto o anelo do florescimento suspirar!

Esperança em suas formas tão belas,

de um futuro que as ânsias diviniza

fogem errantes, fingindo-se estrelas,

da tempestade negra e da tristeza!

Nimbos

Augusto dos Anjos

Nimbos de bronze que empanais escuros

O santuário azul da Natureza,

Quando vos vejo, negros palinuros

Da tempestade negra e da tristeza,

Abismados na bruma enegrecida,

Julgo ver nos reflexos de minh’alma

As mesmas nuvens deslizando em calma,

Os nimbos das procelas desta vida;

Mas quando o céu é límpido, sem bruma

Que a transparência tolde, sem nenhuma

Nuvem sequer, então, num mar de esp’rança,

Que o céu reflete, a vida é qual risonho

Batel, e a alma é a Flâmula do sonho,

Que o guia e o leva ao porto da bonança.

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 04/11/2006
Código do texto: T282025