Alma em fuga
Meus olhos perdidos no infinito do sumir
devoram a esperança passageira que passa
e choram o presente o passado a consumir,
conflitados com muitos opostos na balança!
Opostos que m'habitam,sonho, desilusões;
curvam minhas asas à saudade d’inocência
da remota aurora toda inundada de clarões,
ond'felicidade era rosa que sempre nascia!
Ah, Felicidade! porque da Paz me deixaste
recordações apenas, de um mundo singular,
onde a luz de lampião alegrava tanta gente,
cônscia que harmonia voluntária é salutar?
Almas se ferem de feridas que matam amor,
confinando-se ao amargor e desesperanças,
tecendo nas raias baixas hinos de desamor;
com sangue lavam e afogam suas heranças!
Quisera os suspiros do Velho Sonho Feliz,
cuja Luz de dulcíssima concórdia escorria!
Afogados. No ribombar atômico que se diz
ao progresso pertencer e aniquila em fúria!
Chora o Sonho ido, o sonho mais profundo!
Brada no meu soluço o Sonho hoje amargo,
mirando a carne putrefata ao chão secando,
saudosa até a sua raia, do candoroso afago!
Deixa meu olhar viajar levando sua mágoa,
apalpando suas memórias sem sonhar a toa,
est'alma feita de heranças volta às origens,
de sagradas e serenas e delicadas miragens!
Clama sonhar nas Alturas, suspirar! Sonhar
qu'é cisma a morte da terra pelos terrestres,
roga ao céu um sulco aberto para se aninhar,
e renega o irmão que lesa os dons silvestres!
Santos-SP-30/08/2006