terno de linho
meus mortos sabem...
que estou escrevendo tanto
que minhas palavras balbuciam
por não saberem o que dizer
sabem e me olham enternecidos
por manterem-se escondidos
querendo me socorrer
meus mortos sabem...
dos caminhos que trilho
dos desejos entrecruzados
que se perdem na distância
como os penduricalhos
de que eu devia me desfazer
sabem e me olham desguarnecidos
por não me fazerem esquecer
meus mortos sabem...
como sou desordenado
embora queira tudo no seu lugar
como a ilusão fantasmagórica do eclipse
está em conjugação lunar
com o que penso que sou
sabem por certo onde vou
e me olham desiludidos
o que eles não sabem
é que amanhã é feriado
(não usam mais calendário)
e que com um jeito abusado
vou por o meu terno de linho
guardado com tanto carinho
que eles não vão nem saber
ao me olhar e me ver
elegantemente trajado