Abrigo celeste
Veio a sombra negra e esguia que falava da tristeza,
qu’a cicatriz doída d’ausência deixari’ em meu rosto,
tristonho como ela, sem racimo de sol nem encanto,
como o látego inexorável ensangüentando a beleza!
Impiedosamente, arquitetou a cicatriz da nostalgia
a nuvem deformada, toda negra feito uma sombra,
horrenda como rio sem regueira’onde meu olhar ia,
vestind’ o murmúrio silente da melodia que sangra!
Noite ou dia,não sei. Foi-se, voando pássaro de fogo
num último adeus ao singular sonho que incendiava
trouxe repente d’anseios pelos quais há tanto divago.
Almos Atalaias! É só suspiros ess’alma que me leva!
Como tod’alma carece d’uma esfera de luz e cânticos,
naquela sombra, à meia voz, chamei os hinos brancos
a encherem o silêncio imenso mais lento que a morte,
mais frio qu’alguma esperança sem seara e sem sorte!
Sóis nem chuvas! Nada despertava aquela noite clara,
de um sono diurno apagado pela sombra intrigante;
somente a lua negra entrou em minha face feiticeira
e a mud’eclipse fez escuridão no escuro ambivalente!
Toque mágico! Minh’alma exultou trêmula e inquieta,
fugidia das colméias que acordam brancas alvoradas,
na candura da curva do som e fogo brota'se levanta,
tateando o larg’ amoroso céu de sombras abençoadas!
Atalaias d’encantamento clareiam escolhas bivalentes,
separando das vagas peçonhentas do mal todo o BEM.
E as áridas regiões ariscas que não eram de ninguém,
ficam perfeitas, cabendo todos os mundos penitentes!
Basta crer e mais crer sorrindo indefinidamente antes,
desatar carnais anelos para que tudo s’ ale por pontes.
A fé que jamais cansa aproxim’ os atalaias refulgentes,
tal prece na prece, Deus n’ alma são mirras odorantes!
Santos-SP-25/07/2006