Caminhada...
Todo dia parece igual ao dia anterior,
Pode ser que meu olhar esteja habituado a não mais perceber
O que há de novo a cada dia.
Talvez porque não haja mais nada de interessante para se ver,
Para se encantar,
Para se surpreender.
Talvez estejamos tão insensivelmente robotizados,
Que já não paramos para deslumbrar as poucas coisas
belas que há na vida.
Nos trancafiamos em nossos hábitos cotidianos,
E fazemos desses mesmos hábitos refúgios para viver e sobreviver.
Lutando com tanta convicção pelo certo e contra as mentiras,
Quando tudo na realidade pode ser
uma infinidade de mentiras e de erros,
Os quais foram criados por nós mesmos.
Há tantos crimes hediondos indecifrados,
O ranger da porta da Morte afugenta todos os organismos vivos,
E eu zombo diante do reflexo de minha Inexistência,
É tão fácil dar conselhos,
Do que adianta seguir em frente
Se o troféu que nos está reservado lá é tão somente a Morte?
Personalidades distintas tentando conviver sob um mesmo teto.
Tudo é tão risível meu Deus!!!
Os traumas reprimidos de todas as criancinhas
Chicoteiam o espírito de minhas vértebras,
Crianças estripadas salmodiando gritos apavorantes aos olhos de Deus,
Enquanto o assassino sorri diante de sua obra-de-arte ensaguentada.
Corações destruídos e incicatrizáveis,
Almas que se sentam uma ao lado da outra e se sentem perdidas,
Em busca de uma felicidade e salvação imaginárias.
Estes cactos de rituais religiosos que nos conduzem para o caminho das ilusões.
Afogado pelo silêncio escuro do próprio quarto,
Introduzindo mistérios e mistificações para uma existência absurda e insolúvel,
Quais palavras a se dizer
E que ações a se fazer antes de esvair o último suspiro?
E os olhos que se fecham por não mais suportarem presenciar
esses horrores desumanos,
E o coração pede ao corpo e a mente para cessar de bater,
Pois ele sabe que tudo é inútil.
Tudo se torna tão estranho ao olharmos para qualquer algo pela segunda vez,
E a mente indaga: _ O que afinal é isso de verdade?
Por que ainda continuo aqui...
E a folha do destino é virada,
E toda nossa vida é um livro repleto de folhas em branco
O qual supomos que escrevemos nossa biografia a cada instante de nossas vidas.
A linda ilusão da liberdade,
A gloriosa mentira do livre-arbítrio,
Se Deus não existe,
Então por que não acabar com toda essa farsa teatral de uma vez por todas?
Aprisionados pela esperança de que as coisas podem mudar,
E toda mudança é a mesma repetição;
A morte dilacerante de todas as estrelas,
E o sol a se apagar completamente,
Quem sabe nesse momento
Finalmente caiamos no chão opaco da Realidade,
E nos despertemos de estarmos acordados para a Vida.
Os erros dos filhos repudiados pelas faces envergonhadas dos pais,
Teu coração vazio buscando incessantemente idéias, sensações, e pessoas
Para preencher o vácuo de tua alma.
Olhe para tuas mãos criminosas e ria de si mesmo,
Zombe de Tuas certezas,
Veja toda a beleza das flores mutiladas pela ganância humana,
Garotas tão lindas e tão podres por dentro,
Vendendo seus corpos por pedaços mortos de papeis,
Ou para conseguir uma pseudo-estabilidade social.
Nem aqueles pais e nem Deus permitem homossexuais em sua santa morada,
Banidos para o inferno das ruas,
Entregues a cafetões, traficantes, pedófilos,e assassinos,
Atirados pelo bondoso Deus para o fogo eterno.
Seguindo e sorrindo em frente,
Como se nada estivesse errado.
Será que ainda nos resta tempo para encontrarmos um caminho melhor...
Não existe tempo, e nem tão pouco caminhos,
O que há é a idéia de Tempo,
E a ilusão de que haja um caminho verdadeiro.
Toda a humanidade é atormentada pelo medo da Morte,
E pela idéia da existência de Deus;
Quem se livra de tudo isso,
Está mais próximo da verdadeira liberdade que reside em nós,
Pois há um lugar onde estamos livres de tudo e para tudo,
O qual ninguém pode invadir, roubar ou dominar sem a nossa outorgação.
Esse santuário chama-se Imaginação,
E lá tu podes conquistar, ser, viver, sentir, experimentar, e vencer
Tudo o quanto quiseres,
E podes ser tudo o quanto almejares.
Gilliard Alves Rodrigues