Espelho irrefutável
Espelhos! Ampulhetas tão magistrais
da nua realidade escancarada,
que incônscios cativamos entre os cais,
escravos da ilusão mais descarada.
Porém é inacessível a cada homem
de si próprio evadir-se, desdenhando
seus muitos eus, que sem luz se consomem,
errando, o infinito desafiando.
Os espelhos despertam em silêncio
aquela intimidade imprescindível
pela qual se vulnera brando o néscio,
pretendendo uma vida apetecível.
A essência das coisas somente é vista
pelos olhos chorosos que fascinam,
como chama que ao povo fraco incita,
virginal dos oásis que paz minam.
Serpenteiam os homens entre campos
bifurcando-se em criança, em futurista,
enquanto espelhos selando seus corpos
os deixam frouxos como roda inquieta.
Seu semblante varia: de barbas brancas
em fábulas sonhando ser um nobre...
ou o porvir de sutis promessas francas...
Espelho! Austero juiz que certeza abre.
O cristal não nos diz que deliramos
medrosos hibernando frente à rota;
conhecendo o que somos e o que temos
estimula ou derruba o que nos resta.
Inês Marucci