Transição entre dois mundos
Sei que há vontade,
sei que há versos,
escondidos, dentro do calabouço sagrado.
Há poesia, posso sentí-la,
até nos ossos,
penetrando fundo,
como faca na carne macia do poeta.
Entrelaços de contradições em todas as paisagens.
Um mar de devaneios, internos e externos,
percorrem meu sangue,
pelas veias da cidade inóspita.
Uma gota de suor imaginária me percorre as costas,
causando arrepio, torpor, incomodo.
As palavras forçam a passagem entre meus dedos,
bem na ponta do lápis.
Ali, na ponta do lápis,
estou eu,
nú,
assustado pela exposição da nudez absoluta,
de sentimentos,
de espírito,
já contorcido pela vergonha,
pelo medo de sí mesmo.
Medo pelas batalhas passadas e futuras,
vencidas e perdidas.
Me afogo no mundo de palavras,
perdido, afundo sem esperança,
sem noção ou rumo algum de nada,
até que ao último suspiro,
volto ao pedaço de papel
e a realidade distorcida do mundo
deslucidamente real.
E termino o poema aqui.